Secretaria de Segurança Pública de São Leopoldo criou uma exposição que relaciona composições com feminicídio e estupro
A Secretaria de Segurança Pública de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, lançou uma exposição que relaciona letras de músicas populares ao machismo, violência doméstica, feminicídio e estupro.
Com imagens de cadáveres e mulheres agredidas segurando um cartaz com trechos dessas composições, a ação foi lançado no Dia Internacional da Mulher e tem como propósito alertar sobre a naturalização do machismo na sociedade brasileira e até mesmo na música pop.
A curadoria de letras selecionou sucessos do passado e atuais de estilos como funk, samba, sertanejo, axé e rock. Entre os artistas citados estão Sidney Magal, É o Tchan, Camisa de Vênus, MC Livinho e Noel Rosa.
A exposição chama atenção para um fato: o machismo está entranhado na cultura.
Principalmente na periferia, já que samba, funk e sertanejo são estilos cantados quase sempre por artistas que têm origem nas camadas sociais menos privilegiadas.
E é exatamente nesse recorte que existe uma maior aceitação da violência contra mulher. Não à toa, as principais vítimas desses crimes no Brasil são jovens, negras e pobres, segundo informações do Mapa da Violência
Infelizmente isso nem é novidade e é um cenário antigo. Letras de Noel Rosa e Moreira da Silva já mostram que, apesar dos esforços para que exista representatividade e proteção legal à mulher, muito pouco mudou desde então.
Enquanto Noel sugeria que a uma mulher indigesta merecia um tijolo na testa, MC Livinho diz que vai acabar com a raça de uma mina. 86 anos separam as duas letras. Mas parece que ambos são crias da mesma geração.
E a violência nem sempre é explícita. MC Diguinho fala em Surubinha de Leve que vai embebedar uma mulher e jogá-la na rua depois. Mas Henrique e Juliano quase passam despercebidos na letra de Vidinha de Balada, que conta a história de um homem possessivo que obriga uma mulher a namorar com ele. E se reclamar, vai casar também. Basicamente, a romantização de um relacionamento abusivo. Se achar exagero, basta mudar o gênero do personagem e imagina a letra sendo cantada por Marília Mendonça.
A questão a ser discutida é que esse tipo de conteúdo é tão enraizado que os ouvidos menos problematizadores nem sequer notam o que existe de agravante nesses versos.
O crescimento do funk enquanto gênero musical é um fenômeno sócio-cultural interessante para as periferias do Brasil, mas já passou da hora do estilo deixar de ser tratado com paternalismo e receber as críticas que merece pela sua responsabilidade de vender ideias e
comportamentos que continuam colocando a mulher em posição de submissão.
E nisso não existe tom de censura. Afinal, criticar letras que fazem apologia a crimes de ameaça à vida (como no caso de Surubinha de Leve) ou a relacionamentos nada saudáveis é uma forma de tentar construir uma cultura pop que reflita positivamente na sociedade. Afinal, para alguns pode parecer só lazer, mas o poder de influência de um hit é gigante e até difícil de medir.
Por Helder Maldonado – www.r7.com
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