Jornalista de Piracicaba criou o ‘Ajuda das minas’ para dar apoio a vítimas.
Objetivo é que mulheres avisem quando se sentirem ameaçadas na rua.
O medo causado após o estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos em uma favela do Rio de Janeiro motivou Clara Grizotto, de 22 anos, moradora de Piracicaba (SP), a criar um grupo de mulheres no WhatsApp para que aquelas que estejam em situação de risco peçam ajuda. A iniciativa, batizada de “Ajuda das minas”, é para que elas avisem quando se sentirem ameaçadas por alguém e as demais participantes se mobilizem para ajudar. “Se a gente não se unir, quem vai nos ajudar?”, afirmou a idealizadora.
O medo de viver situações como andar na rua sozinha, usar o transporte público e sair à noite já uniu 75 participantes no grupo, que foi criado na último sexta-feira (27). No início, o “Ajuda das minas” surgiu para mulheres relatassem situações de assédio ou abuso sexual e tivessem um canal de comunicação direta para pedir ajuda. No entanto, a ideia agora é expandir para quem receber qualquer tipo de ameaça ou agressão do parceiro, além de insegurança em locais públicos ou táxis.
“É claro que torcemos para que isso nunca aconteça, mas em casos de agressão, abuso ou assédio, creio que funcionaremos também como um grupo de apoio. Em caso de alguma coisa que aconteça dentro de um táxi, por exemplo, a orientação é anotar a placa do carro”, explicou Clara. Segundo ela, o intuito do grupo também é prestar apoio emocional à vítima e acompanhá-la no processo de denúncia do agressor.
aplicativo (Foto: Arquivo pessoal)
Medo diário
De acordo com a idealizadora do grupo, nenhuma mulher conseguiu ficar em paz depois da violência sexual sofrida pela jovem de 16 anos por mais de 30 homens em uma favela na Zona Oeste do Rio de Janeiro. “O estupro é um medo constante na nossa vida e esse caso tão brutal abriu a ferida de uma maneira que, além de chocar, nos incomodou muito”, contou.
A ideia da criação do grupo surgiu dos constantes assédios sofridos por Clara e por muitas outras jovens que ela conhece. “Já fui assediada tanto usando shorts indo para academia até inteira coberta, com cachecol e gorro, voltando do trabalho. Recentemente fui assediada na rua em frente a minha casa”, disse Clara.
A estudante de 20 anos Lívia Maria da Silva é uma das administradoras do grupo no WhatsApp e é responsável por adicionar as mulheres. “Nos sentimos ameaçadas e inseguras até mesmo numa festa ou balada com as amigas. Aconteceu com uma amiga semana passada: o cara empurrou, prendeu ela na parede e tentou beijá-la. Por sorte, ela conseguiu sair”, relatou Lívia.
Grupo pode diminuir casos
De acordo com a delegada assistente da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Piracicaba, Juliana Pereira Ricci, a criação do grupo é importante porque toda forma de prevenção é válida.
“O que intimida o autor é o risco de punição e essa rede de mulheres conectadas fornece para ele um perigo, pois uma vítima pode informar para outras centenas de mulheres suas características”, explicou a delegada.
Juliana alerta que, após o pedido de socorro de vítimas no grupo, a polícia deve ser acionada. “Não é seguro se ajudar por vias próprias em situações de risco sem ter preparo”, comentou a delegada da DDM. Para ela, é possível que o grupo ocasione na diminuição no quadro de abusos e até agressões contra as mulheres na cidade. “Apesar do machismo, a força das mulheres pode realmente intimidar os homens”.
Sororidade
Com a criação do grupo e a união entre as mulheres, a ideia de rivalidade feminina começa a cair por terra por causa da“sororidade”, palavra que significa a aliança entre as mulheres, baseada na empatia e companheirismo. O termo adotado no movimento feminista é o carro-chefe do grupo.
A estudante Jaqueline Altomani, de 19 anos, também é administradora do grupo e afirmou que esse é o momento das mulheres se unirem. “Estamos vivendo uma realidade em Piracicaba em que o número de agressões e estupros vem crescendo e, por isso, precisamos de um mecanismo para cuidar umas das outras”, comentou a jovem.
“O caso de estupro no RJ foi denunciado por meninas completamente diferentes, de ideologias diferentes, mas que se uniram pelo sentimento de empatia, de sororidade. A ideia do grupo é ignorar julgamentos morais e sermos solidárias umas com as outras”, completou Clara.
Discussion about this post