No mundo do MMA, quando um lutador começa a se tornar dominante em sua categoria, é normal que ele seja comparado ao boxeador Mike Tyson, que dominou os pesos-pesados da “Nobre Arte” nos anos 80 e 90. Já habituada a ser vista como a versão feminina do pugilista, Cris Cyborg garante que prefere que celebrem a “Era Cyborg”, para que seus feitos no MMA sejam lembrados por si sós, e não como paralelos à carreira e aos feitos de Tyson.
– Eu respeito o trabalho do Mike Tyson, que fez muito pelo boxe, mas a gente tem que celebrar a “Era Cyborg”. No começo, eu era o Mike Tyson. Depois a Ronda começou a finalizar todo mundo, e ela passou a ser o Mike Tyson. Agora sou eu de novo. Eu quero deixar a memória da Cyborg, do Brasil – disse a brasileira no “media day” do UFC 222, em Las Vegas.
Cyborg também falou sobre a sua inclusão no card do UFC 222. Para ela, estar sempre treinando e preparada para ser chamada fez a diferença quando o UFC a contactou durante uma viagem de férias e seminários na Europa para que ela fizesse a luta principal do evento.
– Na primeira vez eu recusei. Eu disse: “Eu estou passeando, para de me incomodar. Não me liga!” Mas depois eu comecei a treinar, chequei meu peso e não estava muito alto – somente 1,4kg acima do peso que eu lutei contra a Holly Holm -, estava me sentindo bem e decidi lutar. A única cisa que eu pedi para o meu empresário foi não cancelar nenhum compromisso que eu tinha em Portugal, porque tinha muita gente me esperando lá. Mas o protetor bucal sempre está na mala. Peguei luva de um, caneleira de outro, levei meu tênis de correr e treinei lá mesmo. Eu estava me preparando pra lutar em julho, porque eu estou resolvendo o processo relacionado à minha sobrinha, e eu vou ter de ir ao Brasil no fim de março. Mas como marcaram essa luta pro começo de março, deu certinho. Mas eu acredito que eu provavelmente volte a lutar em julho.
Falando sobre sua adversária, Yana Kunitskaya, a brasileira disse estar satisfeita por
enfrentar uma lutadora peso-pena, ainda que a russa tenha sido campeã peso-galo do Invicta há algum tempo. Cyborg também deixou claro um certo interesse que a luta vá para o chão.
– A Yana tem oito vitórias e uma derrota no peso-pena, e na última luta ela estava muito acima do peso de uma lutadora peso-galo, e por isso teve de subir de categoria. Então ela vai ser uma peso-pena de verdade. Eu sei que ela é do kickboxing, tem um pouco de chão também, e acredito que ela esteja bem preparada porque treinou com a Holly Holm e estava estudando o meu jogo por isso. Eu estou preparada se a luta for para o chão. Estou treinando com o Cobrinha há dois anos, sou faixa marrom do Galvão e, se eu tiver a oportunidade de levar a luta para o chão, eu gostaria de fazer.
Perguntada sobre uma eventual luta contra Amanda Nunes, campeã peso-galo do UFC, Cyborg reiterou sua intenção de enfrentar a compatriota, mas deixou claro que há lutadoras no card do UFC 222 em condições de disputar o cinturão contra a baiana.
– A Amanda tem que defender o cinturão dela, como eu vou defender o meu no sábado. Aqui tem a Cat Zingano e a Ketlen Vieira que vão lutar também no sábado, e daí deve sair a próxima desafiante ao cinturão peso-galo. Eu não quero interromper ninguém, mas com certeza, se quiserem fazer essa luta, eu estou disposta a fazer.
A presença de outras quatro lutadoras (Cat Zingano, Ketlen Vieira, Ashley Yoder e Mackenzie Dern) em outras lutas femininas no evento agradou Cyborg, que se disse feliz em ser uma referêcia especialmente para as brasileiras.
– Fico feliz por ter tantas meninas nesse evento. Parece um Invicta, né? E acho muito legal elas dizerem que se espelham em mim. A Ketlen Vieira disse que um dia queria treinar comigo, e estava lá perdendo peso. A Mackenzie vem sofrendo para bater o peso como eu sofria. Hoje eu consigo com muito mais facilidade, por causa da experiência. Ela vai conseguir também.
Uma das pioneiras na chegada das mulheres ao Vale Tudo, Cyborg fez questão de lembrar daquelas que abriram o caminho para que as lutadoras atuais tivessem condições de ser profissionais, e aproveitou para deixar um recado para aqueles que criticam suas adversárias no UFC.
– No começo não havia muitas lutadoras, então quem aparecia eles colocavam pra lutar comigo, independente da categoria de peso. Eu tinha muito a filosofia da Chute Boxe, que era enfrentar qualquer um e estar preparado para tudo. Mas eu enfrentei as melhores da minha época, como a Marloes Coenen, a Gina Carano… Quem fala que eu não lutei com ninguém de nome, está chegando agora. Eu digo que é a “Geração Ronda”, que começou a ver MMA para segui-la. Mas teve muitas pioneiras, como a Carina Damm, a Ana Maria Índia, a Carmem Casca-Grossa, a Ediane Gomes… várias estão lutando até hoje, mas são pioneiras.
UFC 222
3 de março de 2018, em Las Vegas (EUA)
CARD PRINCIPAL (0h, horário de Brasília):
Peso-pena: Cris Cyborg x Yana Kunitskaya
Peso-pena: Frankie Edgar x Brian Ortega
Peso-galo: Sean O’Malley x Andre Soukhamthath
Peso-pesado: Stefan Struve x Andrei Arlovski
Peso-galo: Cat Zingano x Ketlen Vieira
CARD PRELIMINAR (20h30, horário de Brasília):
Peso-palha: Ashley Yoder x Mackenzie Dern
Peso-leve: Beneil Dariush x Alexander Hernandez
Peso-galo: John Dodson x Pedro Munhoz
Peso-médio: CB Dollaway x Hector Lombard
Peso-meio-médio: Mike Pyle x Zak Ottow
Peso-galo: Bryan Caraway x Cody Stamann
Peso-meio-pesado: Jordan Johnson x Adam Milstead
FONTE: G1
Por Adriano Albuquerque, Ana Hissa, Evelyn Rodrigues e Marcelo Russio, Direto de Las Vegas (EUA)
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