População desocupada cresceu mais de 40% em apenas um ano
A taxa de desemprego no país acelerou mais uma vez e ficou em 10,2% no trimestre encerrado em fevereiro, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal, divulgada nesta quarta-feira (20) pelo IBGE. O resultado é o pior da série iniciada em 2012. A população desocupada totalizou 10,371 milhões no período e cresceu mais de 40% em um ano.
No trimestre encerrado em novembro, que serve de base para a comparação, a taxa foi de 9%. Analistas consultados pela Bloomberg estimavam que o resultado de dezembro a fevereiro ficaria em 10,1%.
A população desocupada, que ultrapassou as 10 milhões de pessoas, cresceu 13,8% (mais 1,3 milhão pessoas) em relação ao trimestre de setembro a novembro de 2015 e subiu 40,1% ou mais mais 3 milhões de pessoas em um ano. A entrada deste contingente na fila do desemprego, em um ano, é a maior adição já registrada na pesquisa, nessa comparação. E é a primeira vez que este grupo atingiu os dois dígitos (10,4 milhões).
Este número do IBGE contradiz a afirmação feita na véspera pela presidente Dilma Rousseff, negando que o país tenha 10 milhões de desempregados.
Já a população ocupada, estimada em 91,1 milhões de pessoas, apresentou redução de 1,1%, quando comparada com o trimestre de setembro a novembro de 2015 (ou menos 1 milhão de pessoas). Em comparação com igual trimestre de 2015, foi registrada queda de 1,3% (ou menos 1,2 milhão de pessoas).
“Existe um componente sazonal forte atuando sobre este trimestre analisado, que são as dispensas de trabalhadores temporários nos meses de janeiro e fevereiro. O que temos de analisar é a intensidade com que isso ocorreu. Então, esse aumento era esperado, mas o quanto avançou foi bastante expressivo, o que mostra que além da dispensa dos temporários houve desligamentos de pessoas efetivamente empregadas”, explica Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Privado
O número de empregados com carteira assinada no setor privado caiu 1,5% frente ao trimestre de setembro a novembro de 2015, menos 527 mil pessoas. Na comparação com igual trimestre do ano anterior, a redução foi de 3,8% ou menos 1,4 milhão de pessoas.
O número de empregados no setor privado, com e sem carteira assinada, atingiu seu nível mais baixo desde o início da pesquisa, em 2012. No trimestre encerrado em fevereiro, esse grupo representava apenas 48,9% da população ocupada. Há um ano, o setor privado empregava mais da metade da população ocupada (50,3%).
Já a categoria dos empregados no setor privado sem carteira de trabalho assinada recuou 3,8% (-382 mil pessoas) em relação ao trimestre de setembro a novembro de 2015. Na categoria dos trabalhadores por conta própria, houve aumento de 3% (mais 676 mil pessoas) em relação ao trimestre de setembro a novembro de 2015. Na comparação anual, o crescimento deste grupo foi de 7% (1,5 milhão de pessoas).
Situação só deve melhorar em 2018
Com sorte, o mercado de trabalho só deve dar sinais de melhora a partir de 2018. O fato é que a atividade econômica deve fechar em queda de 3,8% este ano e o crescimento deve ser nulo em 2017. Por isso, é muito provável que tenhamos que conviver ainda com período longo de estagnação e de ampliação no desemprego. Nossa avaliação é que nem mesmo uma possível alteração presidencial será capaz de conter o avanço no desemprego no curto prazo porque o nível de investimentos no Brasil caiu muito. Verdade seja dita, grande parte foi devido à queda dos negócios da Petrobras. O impeachment pode melhorar expectativas e investimentos privados, mas não é suficiente para reverter o quadro. É que as famílias estão muito endividadas e não há previsão de elevação significativa de gastos e de investimentos públicos.
Eduardo Reis Araújo, presidente do Conselho Regional de Economia
Rendimento do trabalhador cai em um ano
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (Pnad Contínua) também revelou que o rendimento médio de quem estava trabalhando no trimestre terminado em fevereiro foi de R$ 1.934. Sobre o trimestre de setembro a novembro, o valor não variou, mas ante o trimestre de dezembro a fevereiro de 2015, o rendimento caiu 3,9%.
Na comparação com o trimestre de setembro a novembro de 2015, só o rendimento médio do grupo de serviços domésticos teve aumento, de 1,8%. “Esse aumento do rendimento do trabalhador doméstico pode ser em consequência do aumento do salário mínimo”, disse Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE.
Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, o rendimento médio caiu em grupamentos transporte, armazenagem e correio (-6,3%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-5,7%) e agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (7,4%).
“O rendimento caiu ao nível do início de 2013 e representa uma queda bastante expressiva no que diz respeito ao poder de compra das famílias. Consequentemente, caiu a massa total de dinheiro circulando no país, pois além de cair a renda caiu o número de pessoas empregadas”, analisa Azeredo, do IBGE.
A participação de empregadores apresentou redução de 5,8% (-233 mil pessoas) em relação ao trimestre de setembro a novembro de 2015 imediatamente anterior.
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