Durante a reunião, um grupo de manifestantes de escolas particulares da Grande Vitória realizou um protesto em frente ao prédio da Reitoria
Mais de cinco horas de reunião e tensão do lado de fora do prédio da reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) marcaram o dia em que a instituição “sepultou” o seu vestibular da forma tradicional como vinha sendo realizado até o ano passado. A partir deste ano serão oferecidas 4.284 vagas, todas pelo Sistema de Seleção Unificada, o Sisu, do governo Federal.
Por 18 votos a 10, o Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Cepe) da Ufes resolveu aderir integralmente ao sistema. A resolução que vai ratificar a medida terá a sua redação final discutida no dia 4 de maio, em nova reunião.
“A Ufes já tem discutido desde 2009 e já tem ingresso parcial pelo Sisu. A Ufes já decidiu a partir desse processo seletivo pela adoção do Sisu de forma total”, explica o reitor Reinaldo Centoducatte.
Na prática, os alunos que antes deviam fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e depois a segunda etapa com as discursivas específicas para cada área e a prova de redação, agora precisam de fazer apenas o Enem.
No entanto, a universidade também irá atribuir pesos diferentes às notas de determinadas disciplinas de acordo com o curso escolhido pelo estudante.
“Para o curso de Medicina, por exemplo, é possível que haja um peso maior para as questões de Química e Biologia, já para um curso de comunicação pesarão mais as questões de linguagens e humanas”, exemplifica Centoducatte.
Os cursos especiais como os de licenciatura em culturas indígenas e o de Educação no Campo podem, segundo o reitor, ficar de fora do Sisu por terem características específicas.
Outra proposta é que a medida da adesão ao Sisu seja reavaliada no ano de 2021. A data é um dos pontos que serão definidos no dia 4.
Próximos passos
Outros pontos do processo seletivo serão avaliados ainda pelo conselho, incluindo o caso dos cursos que exigem habilidades específicas, como o curso de Música, por exemplo, em que é preciso ter noções musicais para poder cursar. Para esses cursos há a possibilidade de uma espécie de pré-seleção de aptidões.
Em um outro momento, que deve ocorrer até setembro ou outubro, serão definidos os pesos que cada área do Enem terá para cada curso. Segundo Centoducatte, esse processo será feito pelos colegiados que vão definir quais disciplinas vão pesar mais para os candidatos.
Perfil do estudante não deve ser alterado
Uma das principais críticas de quem é contra a adesão da Ufes ao Sisu é a da possibilidade de alunos de todo o Brasil concorrerem às vagas, o que, segundo eles, diminuiria a chance do candidato do Estado. Os representantes dos estudantes no conselho votaram contra a proposta.
Para o relator da proposta, membro do Cepe e professor Antônio Carlos Moraes, não deve haver uma “invasão” de alunos de fora do Estado.
“Pelos estudos feitos nas universidades federais que adotaram o Sisu não foi constatada uma grande mobilidade”, explica Moraes.
Maria Auxiliadora Corassa, pró-reitora de graduação, afirma que nos campi de São Mateus e Alegre, onde já há adesão ao Sisu, não há altos índices de alunos de fora. Antônio Carlos complementa que, ao contrário, há um expressivo contingente das próprias cidades do interior do Estado.
“Tradicionalmente a Ufes sempre teve alunos de Minas e do Sul da Bahia. Mas isso deve mudar. Agora há uma universidade no Sul da Bahia e os Ifes também. Não é algo que tire as oportunidades das pessoas do entorno”, frisa a pró-reitora.
A Ufes foi a 60ª universidade federal a aderir ao Sisu. Agora, das 63 federais do país, apenas três não adotaram o sistema de forma integral para selecionar seus alunos. São elas a de Santa Catarina, a do Oeste do Pará, em Santarém, e a Universidade Federal de Roraima.
Ameaça de ocupação
Contrários à adoção do Sisu pela Universidade Federal do Espírito Santo, alunos da instituição ligados a movimentos estudantis e jovens do ensino médio protestaram durante a reunião de ontem. Com todas as portas da reitoria fechadas e vigiadas por seguranças, os manifestantes as cercavam e gritavam palavras de ordem, ameaçando ocupar o prédio. Havia cerca de 60 pessoas ao redor do prédio.
A confusão fez com que servidores da Ufes e terceirizados – um grupo de cerca de 30 pessoas – ficassem presos no prédio da Pró-Reitoria de Pós Graduação. Seguranças tentavam negociar com os estudantes e a cada vez que uma das portas era aberta havia empurra-empurra e bate-boca. Até mesmo o professor Ernesto Hartmann, membro do Cepe e relator de parte do processo de adesão ao Sisu, ficou impedido de entrar por causa da confusão.
Entre os gritos entoados pelos estudantes ao som de tambores estavam “Se lutar o Sisu cai” e “Ocupa a Reitoria”.
Bastante hostis à presença da imprensa, os estudantes hostilizavam e gritavam contra a presença dos jornalistas. Uma manifestante chegou a tentar impedir o trabalho de um repórter fotográfico. O grupo se negou a dar entrevistas para explicar porque era contra a adesão da Ufes ao Sisu.
O grupo se dispersou no começo da noite, pouco depois do fim da reunião do Conselho.
Opiniões
Para o diretor pedagógico e coordenador do terceiro ano e pré-vestibular do Darwin, Mário Broetto, a adesão da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foi tardia. “Aconteceu em uma época do ano desfavorável para os candidatos, que já vinham se preparando para as discursivas e para o Enem, e que agora temem ser prejudicados. Mas o processo tem seu valor, tanto que mais de 150 instituições brasileiras já aderiram ao Sisu”, explicou. Para ele, o mais importante agora é trabalhar para aproveitar os próximos seis meses para preparar bem os alunos para enfrentar o Enem.
Avanço
Para o secretário de Estado da Educação, Haroldo Corrêa Rocha, o saldo da adesão da Ufes ao Sisu é positivo e coloca a Universidade em condições de igualdade com outras pelo país.
“O Sisu tem como base o Enem, que substitui com vantagem o vestibular em sua forma tradicional. A minha palavra para os que temem uma competitividade maior é tranquilidade. Ao mesmo tempo que outros podem vir tentar aqui, os capixabas também podem tentar lá fora”, diz.
O secretário também citou que com o Sisu o número de vagas ociosas na Ufes deve cair. “A Ufes também deixa para trás o esquema do vestibular e a ideia de treinar o aluno para resolver as questões. O Enem privilegia o raciocínio”, opina.
Discussion about this post